quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Na prática: o melhor momento de indicar a hemodiálise

Atualmente tem se recomendado considerar a hemodiálise em estádios mais precoces da lesão renal aguda (LRA), como nos casos de azotemia progressiva que não responde à reposição volêmica num período de até 24 a 48 horas, ou em pacientes com LRA no estádio III pela classificação da Sociedade Internacional de Interesse Renal (IRIS) ou estádios acima.

 


Mas essa indicação requer detalhamento do caso, que inclui:

- avaliação do equilíbrio hídrico;

- eletrolítico (hipercalemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia);

- ácido-base (acidose metabólica);  

- pressórico

-bem como o monitoramento simultâneo do débito urinário (oligúria ou anúria) e a busca pelo fator indutor de LRA (leptospirose, leishmaniose, exposição conhecida a toxinas).

A remoção desses solutos para minimizar as concentrações médias de ureia suavisa a morbidade e mortalidade associada a uremia, mas não resolve todos os sinais uremicos que o paciente manifesta. Sempre é importante reforçar junto aos tutores que a hemodiálise e o tratamento da LRA podem se prolongar para muito além da primeira semana ou não surtir êxito.

A intensidade do tratamento de diálise pode ser ajustado alterando a taxa de fluxo sanguíneo (Qb), taxa de fluxo do dialisato (Qd), depuração do hemodializados (kd), taxa de ultrafiltração ou comprimento de sessão de diálise (Td) para acomodar o tamanho e as necessidades terapêuticas do animal.

A prescrição de diálise deve acomodar os fatores fisiológicos, hematológicos e estado bioquímico dos pacientes antes da diálise e direcionar as modificações desejadas no final da sessão.

A prescrição é individualizada para cada paciente e pada cada sessão de diálise, selecionado as opções dialíticas que melhor atingem objetivos de remoção de solutos e sessão de ultrafiltração sem predispor risco terapêutico.


EVOLUÇÃO CLINICA E PROGNÓSTICO DE PACIENTES ENCAMINHADOS PARA HEMODIÁLISE

Diversos fatores determinam o resultado e o prognóstico em longo prazo de animais com LRA. A causa da LRA pode influenciar o sucesso da terapia médica e dialítica. Esses fatores estão relacionados à reversibilidade da lesão renal (diretamente ligada a causa e gravidade da LRA), comorbidades, complicações e terapias médicas disponíveis.

Ocasionalmente o rim tem capacidade de recuperação, porém a uremia grave pode levar a morte antes que a recuperação aconteça. As terapias médicas fornecem uma janela estreita de oportunidade para que a recuperação renal aconteça. A diálise amplia essa janela por tempo ilimitado na ausência de complicações fatais ou restrições financeiras.

À capacidade de recuperação renal está associada com a causa da LRA, etiologias diferentes produzem prognósticos diferentes, que mudam ao longo do tempo com doenças emergentes, regiões geográficas, novos agentes terapêuticos e mudanças nos padrões de abordagem clínica e terapêutica do animal coma LRA. Limitado número de estudos têm investigado a associação da etiologia da LRA com seu prognóstico. Anúria ou oligúria persistente são fatores de risco de mortalidade mais consistente em estudos em cães e gatos com LRA, e são consideradas indicadores de prognóstico negativo.

Em um estudo realizado por Eatroff et al (2012) que avaliou o desfecho a longo prazo de 135 cães e gatos com LRA tratados com hemodiálise intermitente entre os anos de 1997 a 2010, revelaram que dentre 93 cães submetidos a hemodiálise por diferentes causas, que foram: 43% por causa desconhecida, 23% infecciosas, 22% por intoxicações e 10% divididos entre sepse, rabdomiólise, nefropatia perdedora de proteínas e insolação, o número médio de tratamentos foi de 4 com intervalo entre as sessões de 1 a 2 dias, a taxa de sobrevida global no momento da alta hospitalar foi de 53%, após 30 dias essa taxa caiu para 42% e após 365 dias a taxa de sobrevida global foi de 33%. Para todas as causas de mortalidade o tempo médio de sobrevivência para os cães foi de 9 dias. O autor conclui que cães e gatos com LRA tratados com hemodiálise têm taxas de sobrevivência semelhantes à de pacientes humanos e embora tenha havido uma alta taxa de mortalidade antes da alta hospitalar, os pacientes que sobreviveram após o momento da alta tiveram alta probabilidade de sobrevivência em longo prazo.

Os resultados de cães tratados por hemodiálise são afetados pela duração do tratamento, que por sua vez, muitas vezes é limitado por restrições financeiras. Reparação e regeneração do rim lesado e hipertrofia compensatória pode persistir por vários meses e os tutores podem não ser capaz de manter seus animais em hemodiálise pelo tempo necessário para facilitar a recuperação e alcançar um resultado de sucesso. No entanto, quando não há restrições financeiras que limitam a duração do tratamento, o prognóstico para a sobrevivência pode ser melhor nos próximos 30 dias após a LRA.

O prognóstico nos casos de LRA geralmente é ruim, sendo dependente da capacidade e da eficiência em se controlar as consequências da disfunção renal, tais como: distúrbios hídricos, eletrolíticos e pressóricos, hipercalemia, desequilíbrio ácido-base, hiperfosfatemis, anemia e uremia. Ou seja o tratamento é complexo e o prognóstico é pior nos casos de DRC descompensada ou agudizada, visto que a massa funcional renal é pequena já no início do tratamento. Assim é importante que o serviço esteja plenamente organizado, baseado em diretrizes e objetivos, a fim de que detalhes de cada caso clínico não passem despercebidos e, desse modo, se consiga ter certeza de que desfechos ruins sejam atribuídos a condição da doença.

 A hemodiálise é uma modalidade útil e viável para melhorar o resultado em cães e gatos com LRA que não respondem adequadamente ao tratamento médico. A decição de prosseguir com a hemodiálise em pacientes com LRA ou LRA sobre DRC deve ser deita o mais rápido possivel para melhorar a probabilidade de um resultado bem sucedido. Se você esta pensando em encaminhar um paciente para hemodiálise, entre em contato com o centro de diálise para discutir o caso; evitar punção venosa das veias jugulares para que fiquem intactas para a colocação do cateter de diálise; estar preparado para atender as expectativas dos clientes e problemas financeiros e emocionais envolvidos na realização de diálise em nosso paciente veterinários.





segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Afinal há ou não necessidade de ajustar a dosagem de medicamentos em cães e gatos com doença renal crônica?

Afinal há ou não necessidade de ajustar a dosagem de medicamentos em cães e gatos com doença renal crônica?

 

Essa dúvida não é exclusiva minha – com alguma razão – de muitos outras veterinários.

 

A resposta da conclusão dessa tradução (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8833495/) está logo abaixo, mas ler o artigo todo faz sentido por relembrar a importância da farmacocinética, farmacodinâmica da classe dos medicamentos e principalmente conceitos da fisiologia e fisiopatologia renal com diretrizes pautadas na experiência de profissionais que trabalham pra facilitar o entendimento de quem está começando agora, ou simplesmente para alinhar os conceitos de quem está na estrada a muito tempo.

 

Segue então:

·         Faltam orientações práticas de ajustes de doses na literatura veterinária;

·         As indicações disponíveis são baseadas em instituições de pesquisa através da mensuração da taxa de filtração glomerurar pela depuração plasmática;

·         São necessários estudos de ajuste de dose em cão e gato e em todos os estádios da doença renal crônica, classificado pela sociedade internacional de interesse renal;

·         As adaptações de ajuste posológico baseado no que se sabe das pesquisas realizadas em humanos, na medicina veterinária tem evidência cientifica baixa, ou seja, é baseada na opinião de especialistas, que também não pode ser desconsiderado!

·         É importante, importantíssimo saber a farmacocinética e farmacodinâmica do medicamento a ser utilizado no paciente com disfunção renal.

 

Existe um quadro bem bacana nesse artigo, que vale a pena ser considerado sobre a recomendação dos ajustes de dose. Espie abaixo: